No dia em que se assinala o Dia Internacional da Mulher, recordamos uma
das vozes femininas que mais se bateu pelos direitos das mulheres.
“Mátria dos
homens que levam no perfil
atravessada uma mulher de flores ao vento
como um olho dando para os intemporais
flancos que o amor vai iluminando.”
Natália Correia
é uma das vozes mais marcantes da moderna poesia portuguesa. Personalidade
vigorosa e controversa, a sua acção passou também pela intervenção política e
social.
Foi uma
mulher que ergueu a voz contra as injustiças do país, sempre com uma alma de
poeta. Nascida na ilha de S. Miguel, Açores, para ela, Portugal não era uma pátria, mas uma mátria, título que
adotou para uma das suas obras poéticas.
A sua faceta
literária abrange não só a poesia, mas também o romance, o teatro e o ensaio.
Ligada inicialmente ao surrealismo, acaba por se aproximar mais do romantismo,
inspirando-se em Antero de Quental, outro poeta das ilhas. Além das obras em livro que
foi publicando ao longo da vida, Natália Correia colaborou em diversos jornais
e revistas.
A voz
rebelde da literatura fez-se sentir também na sua intervenção política. A sua vida foi marcada pela independência. Na
qualidade de independente, foi deputada à Assembleia de República. Mantendo a sua condição foi passando por vários partidos.
Natália
Correia, uma voz a descobrir.
CREIO
Creio nos anjos que andam pelo mundo,
Creio na deusa com olhos de diamantes,
Creio em amores lunares com piano ao fundo,
Creio nas lendas, nas fadas, nos atlantes;
Creio num engenho que falta mais fecundo
De harmonizar as partes dissonantes,
Creio que tudo é eterno num segundo,
Creio num céu futuro que houve dantes,
Creio nos deuses de um astral mais puro,
Na flor humilde que se encosta ao muro,
Creio na carne que enfeitiça o além,
Creio no incrível, nas coisas assombrosas,
Na ocupação do mundo pelas rosas,
Creio que o amor tem asas de ouro. amém.