sábado, 31 de janeiro de 2015
sexta-feira, 30 de janeiro de 2015
Dia Escolar da Não Violência e da Paz
No
dia 30 de janeiro celebra-se o Dia Escolar da Não-Violência e da Paz,
uma iniciativa do poeta, pedagogo e pacifista espanhol Llorenç Vidal.
Desde
1964, que a celebração deste dia pretende chamar a atenção de
políticos, governantes, pais, educadores e professores para a
necessidade de uma educação permanente pela Não-Violência e pela Paz;
que é preciso
educar para a solidariedade e para o respeito pelos outros, porque “Uma
vez que as guerras nascem na mente dos homens, é na mente dos homens que
deve edificar-se a paz” (Preâmbulo da Constituição da UNESCO).
A escolha
da data não foi ao acaso, mas por que este foi o dia do assassinato de
um dos maiores defensores da paz, da não-violência, da justiça e da
tolerância entre os povos: Mahatma Gandhi. Considerado o pai da Índia,
Gandhi foi um homem de boa vontade que lutou, sem ódio, pela
independência da sua pátria e pela paz do mundo.
quinta-feira, 29 de janeiro de 2015
"Nove Mil Passos", Pedro Almeida
«O escritor Pedro Almeida Vieira vai estar em Abrantes no dia 29 de
janeiro (5ª feira) para apresentar o romance histórico “Nove Mil
Passos”.

Pedro Almeida Vieira tem repartido a sua atividade pelo jornalismo, a
escrita e a investigação académica na área da biologia e ambiente.
Foi jornalista «free-lancer» na revista “Grande Reportagem”, no
“Expresso” e no “Diário de Noticias”. Em 2003 foi-lhe atribuído o Prémio
Nacional de Ambiente «Fernando Pereira», pela Confederação Portuguesa
das Associações de Defesa do Ambiente, pela sua contribuição, como
jornalista, para as causas ambientais.
No ensaio, publicou “O Estrago da Nação” (2003) e “Portugal: O Vermelho e o Negro” (2006), dois livros de temática ambiental.
Na ficção estreou-se com “Nove Mil Passos” (2004), a que se seguiu “O
Profeta do Castigo Divino” (2005), “A Mão Esquerda de Deus” (2009,
finalista do Prémio Literário Casino da Póvoa / Correntes d’Escritas) e
“Corja Maldita” (2010).
Criou e gere a biblioHistória, a primeira base de dados de literatura do género histórico.
“Nove Mil Passos” evoca a construção do Aqueduto das Águas Livres, em
Lisboa e constitui “um repositório dos tempos de fausto do Rei-Sol
português, envoltos em beatices, intrigas, libertinagens, superstições,
perseguições e desgovernos, tendo como pano de fundo a história da
construção do Aqueduto das Águas Livres, relatada pelo espírito irónico e
mordaz (e também interventivo) de Francisco d’Ollanda”.»
Ribatejo, Diário Regional Online
segunda-feira, 26 de janeiro de 2015
A melodia da poesia
RECANTIGA
Publicada por
UM TOQUE DE MAGIA
à(s)
22:43
"E era as folhas espalhadas, muito recalcadas do correr do ano
A recolherem uma a uma por entre a caruma de volta ao ramo
E era à noite a trovoada que encheu na enxurrada aquela poça morta
De repente, em ricochete, a refazer-se em sete nuvens gota a gota
Era de repente o rio, num só rodopio a subir o monte
A correr contra a corrente assim de trás para a frente a voltar à fonte
Um monte de cartas espalhadas des-desmoronando-se todo em castelo
E era linha duma vida sendo recolhida de volta ao novelo
Era aquelas coisas tontas, as afrontas que eu digo e que me arrependo
A voltarem para mim como se assim tivessem remendo
E era eu, um passarinho caído no ninho à espera do fim
E eras tu, até que enfim, a voltar para mim."
A recolherem uma a uma por entre a caruma de volta ao ramo
E era à noite a trovoada que encheu na enxurrada aquela poça morta
De repente, em ricochete, a refazer-se em sete nuvens gota a gota
Era de repente o rio, num só rodopio a subir o monte
A correr contra a corrente assim de trás para a frente a voltar à fonte
Um monte de cartas espalhadas des-desmoronando-se todo em castelo
E era linha duma vida sendo recolhida de volta ao novelo
Era aquelas coisas tontas, as afrontas que eu digo e que me arrependo
A voltarem para mim como se assim tivessem remendo
E era eu, um passarinho caído no ninho à espera do fim
E eras tu, até que enfim, a voltar para mim."
Miguel Araújo
domingo, 18 de janeiro de 2015
Concurso Concelhio de Leitura
O Município de Abrantes irá, uma vez mais, organizar o "Abrantes a Ler: Concurso Concelhio de Leitura",
com o objetivo de estimular a prática da leitura entre os alunos do 1º,
2º, 3º ciclos do ensino básico e do ensino secundário.
A 1ª fase do concurso irá decorrer na nossa escola no dia 3 de fevereiro e as inscrições encontram-se abertas para o efeito na Biblioteca Escolar da EPDRA.
Os três apurados ao nível da escola nesta primeira fase, passarão para a
final a realizar posteriormente na Biblioteca Municipal António Botto,
em Abrantes.
A obra escolhida para a 1ª fase a decorrer na EPDRA foi "O Pintor Debaixo do Lava-Loiças", de Afonso Cruz.
Podes consultar o regulamento da 1ª fase aqui.
Participa!
quarta-feira, 14 de janeiro de 2015
CineLeituras - janeiro
No próximo dia 21 de janeiro terá lugar mais uma sessão de cinema na Biblioteca Escolar, inserida na atividade CineLeituras. Desta vez o filme escolhido é "O Perfume", adaptação da obra homónima do escritor alemão Patrick Süskind.
domingo, 11 de janeiro de 2015
quinta-feira, 8 de janeiro de 2015
Charlie Hebdo
"Je suis Charlie"
«Não se percebe a gabarolice dos estúpidos assassinos quando gritaram "Matámos a Charlie Hebdo".
Não se pode matar a Charlie Hebdo. Não se pode matar a valente e hilariante revista que goza com tudo e com todos desde os tempos em que se chamava Hara-Kiri. Muitos poderosos tentaram censurar os satíricos da Charlie Hebdo. Nunca conseguiram. Nunca conseguirão.
O
que se pode matar é a liberdade de expressão. Ou reforçá-la: foi o que
fizeram os estúpidos assassinos que reagiram a desenhos satíricos
massacrando os autores com metralhadoras. Desencadeou-se imediatamente
uma onda de solidariedade francesa e internacional para reafirmar a
liberdade de expressão.
Os mais perigosos inimigos da liberdade de
expressão são pessoas inteligentes e bem-intencionadas que publicamente
pedem tratamento especial para a religião islâmica (ou qualquer outra
religião) para não "ferir susceptibilidades" ou "fazer provocações". São
pessoas liberais que defendem calmamente a protecção das sensibilidades
muçulmanas através da violação da liberdade de expressão, por muito
civilizada e politicamente correcta que seja a forma de censura que
propõem.
Mostraram-se quando foi o caso de Salman Rushdie e
mostrar-se-ão outra vez dentro em breve. Quem será o primeiro idiota
entre nós a dizer que a culpa foi dos assassinados da Charlie Hebdo? Tem todo o direito de dizê-lo. É isso a liberdade de expressão. Ser-se estúpido também é um direito. Até os assassinos o têm.»
Miguel Esteves Cardoso, Público, 08/01/2015
quarta-feira, 7 de janeiro de 2015
Inês de Castro
A 7 de janeiro de 1355
era assassinada Inês de Castro, o grande amor de D Pedro I, por ordem
do rei D. Afonso IV, pai de D. Pedro. Os amores de D. Pedro por Inês, a
dama galega, inspiraram dramaturgos e poetas tornando esta história de
amor na mais aclamada e pertuada pela literatura portuguesa.
nês de Castro nasceu em 1320 ou 1325 na Galiza, era filha ilegítima
do nobre galego Pedro Fernandes de Castro, o da Guerra, e de uma dama
portuguesa, Aldonça Suárez de Valadares, e irmã de D. Fernando e de D.
Álvaro Pires de Castro. Por parte de seu pai era bisneta ilegítima de D.
Sancho de Castela, pai de D. Beatriz de Castela que era mãe de D.
Pedro, futuro Rei de Portugal. Era, portanto, prima em 3º grau de D.
Pedro.
Viveu parte da sua infância no castelo de Albuquerque cuja dona, que a
criou como filha, era casada com Afonso Sanchez, filho ilegítimo de D.
Diniz, até vir a ser aia de sua prima de D. Constança Manuel, filha de
João Manuel de Castela, poderoso nobre descendente da Casa Real
Castelhana e que estava prometida ao príncipe de Portugal, D. Pedro.
Inês de Castro chega a Évora, integrada no séquito de D. Constança, em
1340. Desde cedo foram conhecidos os amores de D. Pedro pela dama
galega. D. Afonso IV, temendo esta relação, exila-a na fronteira
espanhola em 1344.
Após a morte de D. Constança volta a Portugal, tendo vivido com D.
Pedro, de quem vem a ter quatro filhos, o primeiro, D. Afonso, que
morreu em criança. Viveram em vários locais na zona da Lourinhã e, por
fim, em Coimbra no Paço da Rainha Santa junto ao Convento de Santa
Clara-a-Velha, tendo sido degolada a 7 de Janeiro de 1355 por ordem de
D. Afonso IV.
Da vida de Inês de Castro pouco se sabe, a sua trágica morte e o amor
sem limites de D. Pedro e a forma como este quis perpetuar esses
amores, alimentou desde cedo a poesia e a narrativa histórica, não
deixando morrer o mito Inês de Castro.
Fundação Inês de Castro
Episódio de Dona Inês de Castro
(Os Lusíadas, Canto III, 118 a 135)
"Passada esta tão próspera vitória,
Tornado Afonso à Lusitana Terra,
A se lograr da paz com tanta glória
Quanta soube ganhar na dura guerra,
O caso triste e dino da memória,
Que do sepulcro os homens desenterra,
Aconteceu da mísera e mesquinha
Que despois de ser morta foi Rainha.
Tu, só tu, puro amor, com força crua,
Que os corações humanos tanto obriga,
Deste causa à molesta morte sua,
Como se fora pérfida inimiga.
Se dizem, fero Amor, que a sede tua
Nem com lágrimas tristes se mitiga,
É porque queres, áspero e tirano,
Tuas aras banhar em sangue humano.
Estavas, linda Inês, posta em sossego,
De teus anos colhendo doce fruito,
Naquele engano da alma, ledo e cego,
Que a fortuna não deixa durar muito,
Nos saudosos campos do Mondego,
De teus fermosos olhos nunca enxuito,
Aos montes insinando e às ervinhas
O nome que no peito escrito tinhas.
Do teu Príncipe ali te respondiam
As lembranças que na alma lhe moravam,
Que sempre ante seus olhos te traziam,
Quando dos teus fernosos se apartavam;
De noite, em doces sonhos que mentiam,
De dia, em pensamentos que voavam;
E quanto, enfim, cuidava e quanto via
Eram tudo memórias de alegria.
De outras belas senhoras e Princesas
Os desejados tálamos enjeita,
Que tudo, enfim, tu, puro amor, desprezas,
Quando um gesto suave te sujeita.
Vendo estas namoradas estranhezas,
O velho pai sesudo, que respeita
O murmurar do povo e a fantasia
Do filho, que casar-se não queria,
Tirar Inês ao mundo determina,
Por lhe tirar o filho que tem preso,
Crendo co sangue só da morte ladina
Matar do firme amor o fogo aceso.
Que furor consentiu que a espada fina,
Que pôde sustentar o grande peso
Do furor Mauro, fosse alevantada
Contra hûa fraca dama delicada?
Traziam-na os horríficos algozes
Ante o Rei, já movido a piedade;
Mas o povo, com falsas e ferozes
Razões, à morte crua o persuade.
Ela, com tristes e piedosas vozes,
Saídas só da mágoa e saudade
Do seu Príncipe e filhos, que deixava,
Que mais que a própria morte a magoava,
Pera o céu cristalino alevantando,
Com lágrimas, os olhos piedosos
(Os olhos, porque as mãos lhe estava atando
Um dos duros ministros rigorosos);
E despois, nos mininos atentando,
Que tão queridos tinha e tão mimosos,
Cuja orfindade como mãe temia,
Pera o avô cruel assi dizia:
(Se já nas brutas feras, cuja mente
Natura fez cruel de nascimento,
E nas aves agrestes, que somente
Nas rapinas aéreas tem o intento,
Com pequenas crianças viu a gente
Terem tão piedoso sentimento
Como co a mãe de Nino já mostraram,
E cos irmãos que Roma edificaram:
ó tu, que tens de humano o gesto e o peito
(Se de humano é matar hûa donzela,
Fraca e sem força, só por ter sujeito
O coração a quem soube vencê-la),
A estas criancinhas tem respeito,
Pois o não tens à morte escura dela;
Mova-te a piedade sua e minha,
Pois te não move a culpa que não tinha.
E se, vencendo a Maura resistência,
A morte sabes dar com fogo e ferro,
Sabe também dar vida, com clemência,
A quem peja perdê-la não fez erro.
Mas, se to assi merece esta inocência,
Põe-me em perpétuo e mísero desterro,
Na Cítia fria ou lá na Líbia ardente,
Onde em lágrimas viva eternamente.
Põe-me onde se use toda a feridade,
Entre leões e tigres, e verei
Se neles achar posso a piedade
Que entre peitos humanos não achei.
Ali, co amor intrínseco e vontade
Naquele por quem mouro, criarei
Estas relíquias suas que aqui viste,
Que refrigério sejam da mãe triste.)
Queria perdoar-lhe o Rei benino,
Movido das palavras que o magoam;
Mas o pertinaz povo e seu destino
(Que desta sorte o quis) lhe não perdoam.
Arrancam das espadas de aço fino
Os que por bom tal feito ali apregoam.
Contra hûa dama, ó peitos carniceiros,
Feros vos amostrais e cavaleiros?
Qual contra a linda moça Polycena,
Consolação extrema da mãe velha,
Porque a sombra de Aquiles a condena,
Co ferro o duro Pirro se aparelha;
Mas ela, os olhos, com que o ar serena
(Bem como paciente e mansa ovelha),
Na mísera mãe postos, que endoudece,
Ao duro sacrifício se oferece:
Tais contra Inês os brutos matadores,
No colo de alabastro, que sustinha
As obras com que Amor matou de amores
Aquele que despois a fez Rainha,
As espadas banhando e as brancas flores,
Que ela dos olhos seus regadas tinha,
Se encarniçavam, fervidos e irosos,
No futuro castigo não cuidosos.
Bem puderas, ó Sol, da vista destes,
Teus raios apartar aquele dia,
Como da seva mesa de Tiestes,
Quando os filhos por mão de Atreu comia !
Vós, ó côncavos vales, que pudestes
A voz extrema ouvir da boca fria,
O nome do seu Pedro, que lhe ouvistes,
Por muito grande espaço repetistes.
Assi como a bonina, que cortada
Antes do tempo foi, cândida e bela,
Sendo das mãos lacivas maltratada
Da minina que a trouxe na capela,
O cheiro traz perdido e a cor murchada:
Tal está, morta, a pálida donzela,
Secas do rosto as rosas e perdida
A branca e viva cor, co a doce vida.
As filhas do Mondego a morte escura
Longo tempo chorando memoraram,
E, por memória eterna, em fonte pura
As lágrimas choradas transformaram.
O nome lhe puseram, que inda dura,
Dos amores de Inês, que ali passaram.
Vede que fresca fonte rega as flores,
Que lágrimas são a água e o nome Amores."
Inês de Castro na literatura portuguesa
Episódio de Dona Inês de Castro
(Os Lusíadas, Canto III, 118 a 135)
"Passada esta tão próspera vitória,
Tornado Afonso à Lusitana Terra,
A se lograr da paz com tanta glória
Quanta soube ganhar na dura guerra,
O caso triste e dino da memória,
Que do sepulcro os homens desenterra,
Aconteceu da mísera e mesquinha
Que despois de ser morta foi Rainha.
Tu, só tu, puro amor, com força crua,
Que os corações humanos tanto obriga,
Deste causa à molesta morte sua,
Como se fora pérfida inimiga.
Se dizem, fero Amor, que a sede tua
Nem com lágrimas tristes se mitiga,
É porque queres, áspero e tirano,
Tuas aras banhar em sangue humano.
Estavas, linda Inês, posta em sossego,
De teus anos colhendo doce fruito,
Naquele engano da alma, ledo e cego,
Que a fortuna não deixa durar muito,
Nos saudosos campos do Mondego,
De teus fermosos olhos nunca enxuito,
Aos montes insinando e às ervinhas
O nome que no peito escrito tinhas.
Do teu Príncipe ali te respondiam
As lembranças que na alma lhe moravam,
Que sempre ante seus olhos te traziam,
Quando dos teus fernosos se apartavam;
De noite, em doces sonhos que mentiam,
De dia, em pensamentos que voavam;
E quanto, enfim, cuidava e quanto via
Eram tudo memórias de alegria.
De outras belas senhoras e Princesas
Os desejados tálamos enjeita,
Que tudo, enfim, tu, puro amor, desprezas,
Quando um gesto suave te sujeita.
Vendo estas namoradas estranhezas,
O velho pai sesudo, que respeita
O murmurar do povo e a fantasia
Do filho, que casar-se não queria,
Tirar Inês ao mundo determina,
Por lhe tirar o filho que tem preso,
Crendo co sangue só da morte ladina
Matar do firme amor o fogo aceso.
Que furor consentiu que a espada fina,
Que pôde sustentar o grande peso
Do furor Mauro, fosse alevantada
Contra hûa fraca dama delicada?
Traziam-na os horríficos algozes
Ante o Rei, já movido a piedade;
Mas o povo, com falsas e ferozes
Razões, à morte crua o persuade.
Ela, com tristes e piedosas vozes,
Saídas só da mágoa e saudade
Do seu Príncipe e filhos, que deixava,
Que mais que a própria morte a magoava,
Pera o céu cristalino alevantando,
Com lágrimas, os olhos piedosos
(Os olhos, porque as mãos lhe estava atando
Um dos duros ministros rigorosos);
E despois, nos mininos atentando,
Que tão queridos tinha e tão mimosos,
Cuja orfindade como mãe temia,
Pera o avô cruel assi dizia:
(Se já nas brutas feras, cuja mente
Natura fez cruel de nascimento,
E nas aves agrestes, que somente
Nas rapinas aéreas tem o intento,
Com pequenas crianças viu a gente
Terem tão piedoso sentimento
Como co a mãe de Nino já mostraram,
E cos irmãos que Roma edificaram:
ó tu, que tens de humano o gesto e o peito
(Se de humano é matar hûa donzela,
Fraca e sem força, só por ter sujeito
O coração a quem soube vencê-la),
A estas criancinhas tem respeito,
Pois o não tens à morte escura dela;
Mova-te a piedade sua e minha,
Pois te não move a culpa que não tinha.
E se, vencendo a Maura resistência,
A morte sabes dar com fogo e ferro,
Sabe também dar vida, com clemência,
A quem peja perdê-la não fez erro.
Mas, se to assi merece esta inocência,
Põe-me em perpétuo e mísero desterro,
Na Cítia fria ou lá na Líbia ardente,
Onde em lágrimas viva eternamente.
Põe-me onde se use toda a feridade,
Entre leões e tigres, e verei
Se neles achar posso a piedade
Que entre peitos humanos não achei.
Ali, co amor intrínseco e vontade
Naquele por quem mouro, criarei
Estas relíquias suas que aqui viste,
Que refrigério sejam da mãe triste.)
Queria perdoar-lhe o Rei benino,
Movido das palavras que o magoam;
Mas o pertinaz povo e seu destino
(Que desta sorte o quis) lhe não perdoam.
Arrancam das espadas de aço fino
Os que por bom tal feito ali apregoam.
Contra hûa dama, ó peitos carniceiros,
Feros vos amostrais e cavaleiros?
Qual contra a linda moça Polycena,
Consolação extrema da mãe velha,
Porque a sombra de Aquiles a condena,
Co ferro o duro Pirro se aparelha;
Mas ela, os olhos, com que o ar serena
(Bem como paciente e mansa ovelha),
Na mísera mãe postos, que endoudece,
Ao duro sacrifício se oferece:
Tais contra Inês os brutos matadores,
No colo de alabastro, que sustinha
As obras com que Amor matou de amores
Aquele que despois a fez Rainha,
As espadas banhando e as brancas flores,
Que ela dos olhos seus regadas tinha,
Se encarniçavam, fervidos e irosos,
No futuro castigo não cuidosos.
Bem puderas, ó Sol, da vista destes,
Teus raios apartar aquele dia,
Como da seva mesa de Tiestes,
Quando os filhos por mão de Atreu comia !
Vós, ó côncavos vales, que pudestes
A voz extrema ouvir da boca fria,
O nome do seu Pedro, que lhe ouvistes,
Por muito grande espaço repetistes.
Assi como a bonina, que cortada
Antes do tempo foi, cândida e bela,
Sendo das mãos lacivas maltratada
Da minina que a trouxe na capela,
O cheiro traz perdido e a cor murchada:
Tal está, morta, a pálida donzela,
Secas do rosto as rosas e perdida
A branca e viva cor, co a doce vida.
As filhas do Mondego a morte escura
Longo tempo chorando memoraram,
E, por memória eterna, em fonte pura
As lágrimas choradas transformaram.
O nome lhe puseram, que inda dura,
Dos amores de Inês, que ali passaram.
Vede que fresca fonte rega as flores,
Que lágrimas são a água e o nome Amores."
sexta-feira, 2 de janeiro de 2015
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